Greve de caminhoneiros prejudica estoque de bares e restaurantes
Empresários de bares e restaurante enfrentam dificuldades; alguns fecham as portas ou precisam trocar ingredientes de pratos para não tirá-los do cardápio
Os donos de restaurantes em todo o Brasil sentem nos estoques de seus estabelecimentos o reflexo da greve dos caminhoneiros. Segundo Thiago Falcão, presidente da Abrasel em Alagoas, os proprietários dos restaurantes em Maceió começaram a constatar os efeitos da greve mais fortemente entre sexta (25) e sábado (26). “Vários produtos chegaram de forma fracionada. Pedimos 100 kg de algo, mas só chegam 10 kg, por exemplo. E tem também a questão dos preços, com tudo chegando até a gente mais caro. Estamos pensando em alternativas mais em conta para substituir produtos e não subir os preços para os clientes”, afirma Falcão.
Com a dificuldade para reabastecer, a previsão em alguns restaurantes é que o estoque atual não dure muito. “A gente consegue segurar até terça-feira, no máximo. Depois disso, só se tiver reabastecimento, já que hortifruti dura, no máximo, uma semana”, relata Celso Benamor, gerente de um restaurante em Maceió. Outro problema, dessa vez enfrentado pelos estabelecimentos que fazem delivery, é a falta de combustíveis. A distribuição só começou a ser normalizada no sábado (26), depois do fim do protesto na entrada do Porto de Maceió, que impedia a saída de caminhões-tanque para os postos.
Neste domingo (27), por exemplo, um restaurante no bairro de Riacho Doce limitou as entregas apenas à parte baixa da cidade. “Tivemos situações de não ter combustível para poder rodar. Ninguém deixou de fazer entrega, mas teve que reduzir a frota, porque alguns motoqueiros estavam com seus veículos abastecidos e outros, não. Isso somado ao aumento dos pedidos, provocou uma demora nas entregas. Esperamos que com a chegada do combustível nos postos, a situação se resolva”, diz o presidente da Abrasel no estado.
Falcão diz ainda que, no interior, outra dificuldade encontrada por alguns empresários é a falta de gás. “Em Santana do Ipanema, teve um restaurante que ficou sem gás para a produção diária”. Para amenizar a situação até que tudo se resolva, a Abrasel no estado lançou uma campanha nas redes sociais. A imagem divulgada pela associação traz o desenho de uma bomba de combustíveis e a frase, “apoie o comércio local: vá ao restaurante e bar perto de você”. “A campanha pede para que as pessoas incentivem o comércio local e frequentem os estabelecimentos da vizinhança”, conclui o presidente da associação em Alagoas.
Situação em algumas regiões
Em São Paulo, segundo o jornal Estadão, alguns chefs descartam fechar as portas temporariamente, mas já estão se mexendo para se adaptar com o que têm no estoque. Edson Yamashita, do japonês Ryo, aposta na conservação dos alimentos já comprados: “Nós estamos nos virando, praticando algumas técnicas de armazenamento de produtos frescos”. Luiz Filipe Souza, do italiano Evvai, também já tomou algumas medidas: “Estamos segurando as produções de caldos e bases, a fim de esperar os próximos passos da situação, produzindo apenas o necessário para o dia”.
Em Pernambuco, ao que tudo indica, alguns estabelecimentos comerciais do estado conseguirão manter as suas atividades, apesar da greve dos caminhoneiros. Pelo menos, foi o que garantiu o presidente da Abrasel no estado, André Araújo. Segundo o empresário, superar esse momento de crise que afetou o abastecimento de produtos em todo Brasil tem sido possível pela dinâmica de trabalho então adotada. “Nós trabalhamos com um reabastecimento semanal. Quando a greve atingiu o seu pico, na quarta-feira, praticamente todos os bares e restaurantes estavam abastecidos. No momento, estamos administrando pontualmente um ou outro estabelecimento, que adotam uma dinâmica quinzenal”, afirmou André Araújo. “Estamos cientes também de que houve uma preocupação generalizada do público, pela falta de bens de primeira necessidade dentro de casa. Aconteceu, assim, uma mudança de comportamento. As pessoas têm evitado sair de casa”, completou.
Apesar disso, André Araújo acredita que a greve dos caminhoneiros será uma ótima oportunidade para outro debate: “Nós somos tão vítimas quanto a população. Por outro lado, vejo todo esse movimento como algo interessante. O combustível pesou para os caminhoneiros… Mas o nosso gás também aumentou. No prazo de um ano, o custo do gás quase que dobrou o metro cubico. Antes era próximo de R$ 3,30. Agora, é pago R$ 5,30. Foi um aumento muito violento. E que, de certa forma, é repassado para a população. Algo que não desejamos”, finalizou.
Em Belo Horizonte, bares e restaurantes também alteraram o quadro de horários e 50% não vão abriram neste domingo, segundo Abrasel em Minas Gerais. Os que funcionaram, alteraram os cardápios e a escala de trabalho dos funcionários. Pela noite, alguns estabelecimentos fecharam mais cedo na capital. “Falta comida, gás e colaboradores”, afirmou Ricardo Rodriguez, presidente da Abrasel em Minas. Segundo ele, a situação pode se agravar e o número de estabelecimentos fechados aumentar ao longo da semana.
O temor é de desabastecimento geral. O proprietário do restaurante Porcão, em BH, Fernando Júnior, disse que tem estoque para apenas uma semana, mas que os produtos de hortifrútis podem acabar antes. “O meu maior problema é com os produtos frescos, como legumes e verduras”, disse. Apesar de se declarar a favor da greve, o empresário admite que houve uma redução no movimento do restaurante e se diz preocupado com a continuidade do impasse entre governos e os caminhoneiros. “A greve é justa, mas todo mundo está pagando o pato. O governo tem que rever as tributações”, concluiu.